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Blogagem Coletiva: Dia da Consciência Negra

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A presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou dia 10 de novembro a Lei 12.519, que institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares. O Dia da Consciência Negra já havia sido instituído em território nacional para ser comemorado em 20 de novembro pela lei nº 10.639, de janeiro de 2003. A mesma lei tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.  O texto da lei publicada neste Mês não trata da decretação de feriado. A adesão ao feriado ou instituição de ponto facultativo no Dia da Consciência Negra é decisão legal de cada município. Em 2008, mais de 300 cidades adotaram feriado no Dia da Consciência Negra.

2011 acaba por ser um ano especial para o tema, porque também é o Ano Internacional dos Afrodescendentes – instituído por Resolução da Organização das Nações Unidas (ONU). Convocamos uma blogagem coletiva para marcar a data, nos unir a outros movimentos na internet e para trazer mais informação e opiniões sobre a questão racial no Brasil.

Camila Mina. Foto de Nina Vieira no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Confira os posts participantes:

Penso que esse dia é importante não só para os negros reconhecerem ou tomarem “consciência” da sua identidade. Mas, para os não-negros, reconhecer e tomar consciência da existência do negro, como cidadão, digno de respeito, portador de direitos e deveres como qualquer outro cidadão. E que a cor da pele, não deve influenciar em nada no exercício de sua cidadania.

Por mais que a mulata pareça o símbolo máximo das maravilhas de nossa mestiçagem. Situando-se entre o branco e o negro, o fato que é socialmente cada cor tem seu lugar. E há diversos perigos ao transgredir essas fronteiras de racismo social. A raça é um marcador social importante e, para nossa mulata há também o marcador de gênero, que a limita em dois campos das relações sociais.

Senti o preconceito desde cedo, na sala de aula, na casa de vovó, que junto com titia vivia achando receitas para consertar meu cabelo, dar um jeito na juba dessa menina que tem o cabelo igual aos dos negros do Santa Cruz. Cresci ouvindo isso. Enquanto eu era pequena e não tinha direito de me rebelar e visitava vovó para ouvir sempre esse mesmo comentário maldoso, junto com a receita para fazer o cabelo ficar estirado.

 Não podemos negar que algumas mulheres queiram fazer o que bem entenderem de suas madeixas, mas o fato de dispensarem a maior parte do seu dinheiro tentanto ter as madeixas lisas e loiras me faz achar que não querem ser diferentes, e sim iguais. Iguais às européias e diferente da maioria das brasileiras, sobretudo das negras. A escravidão é uma mancha na nossa história, mas parece que o estigma negro nos traços é que tem de ser evitado, tentando fingir que ela nunca aconteceu. Os índios tem cabelo natualmente liso e uma mística ligada ao bom selvagem, o héroi nacional, o guarani. Não vou nem entrar no mérito indígena e do quem vem sido usado como desculpa para apagar toda a questão indígena.

Acreditamos não existir superioridade de uma etnia sobre a outra e esse blog é a nossa maneira de questionar a ideologia vigente onde a representação de beleza na mídia não condiz com a diversidade que compõe o povo brasileiro. Diversidade essa que gera, dentre tantas belezas mestiças, a afro-brasileira.

Imagem do ilustrador Milton Kennedy feita especialmente para o Dia da Consciência Negra de 2011.

Devemos sim clamar por direitos iguais, mas, principalmente pelo “direito à diferença”, ou seja, vivermos sem discriminação, aceitando e respeitando as desigualdades (seja ela de cultura, crença ou característica pessoal). Daí a importância da vivência da palavra Alteridade: aprender com os diferentes, sem julgar, criticar, agredir ou excluir.

Na escola onde meus filhos estudam o lápis de cor bege é conhecido com cor de pele. Eu estranhei a primeira vez que ouvi o termo, mas não dei muita bola. Achei esquisito, mas deixei pra lá. O tempo vai passando e o que nos incomoda cedo ou tarde se torna espinhoso e a gente verbaliza. Então num dia qualquer falei para os meus filhos que aquela denominação estava errada, o nome da cor é bege. Ou rosa clarinho, como quiser. Qualquer coisa, mas não é cor de pele. Porque pele pode ter várias cores, tanto mais num país arco-íris como o nosso.

Sou graduada por uma universidade pública em um curso não necessariamente elitista (porque voltado para a formação de professores) e noturno. Ainda assim, tive pouquíssimos colegas negros. Em meu primeiro dia aula na pós-graduação, em um curso lato sensu numa universidade privada, me chamou a atenção ter cerca 5 ou 6 alunos negros numa turma de 35 pessoas. Estava sendo exposta a uma diversidade que nunca havia encontrado nem na escola nem em nenhum ambiente de trabalho. E achei bem bacana.

NÓS SOMOS LINDOS

Gostaria de ter tempo para escrever sobre a importância do dia da Consciência Negra e discutir pontos importantes do racismo no Brasil. Mas fim de semestre na facu é uma loucura… Selecionei algumas leituras, que acho interessante para dar um panorama das questões que envolvem a vida da população afro-brasileira/afrodescendente.

Hoje é o Dia Nacional da Consciência Negra. É um dia para homenagear Zumbi dos Palmares, grande liderança dos povos negros do Brasil e também é mais um dia para repudiar toda forma de discriminação racial. Minha homenagem às mulheres negras. Bravas Guerreiras.

O afro-descendente, por muito tempo, foi o outro e, agravante, o outro socialmente desprivilegiado: o escravo, o explorado física, emocional, sexual e intelectualmente, aquele sujeito que só atendia como objeto. A mulher negra, no contexto do Brasil escravocrata, servia como objeto sexual, mas não poderia ser a esposa. O homem negro podia ser o amante da “sinhazinha”, mas jamais seu esposo. Isso reflete uma sociedade hedonista, que não se importa em lidar com a alteridade, desde que ela esteja servindo aos seus desejos. O escravo não era um mal a ser extirpado, ao contrário, principalmente aqueles que o consideravam um sujeito de segunda classe, o queriam como subserviente.

Mas, quem caiu agora no Apaixonados por séries, pode estar se perguntando: e o que isso tem a ver com as séries? Bom, sabemos que o racismo é um problema mundial, que é exposto quando trabalhamos com a dicotomia branco X negro. O Brasil, mesmo sendo um país miscigenado e com grande parte da população de negros, pardos e mulatos, não tem essa realidade refletida em novelas, séries na TV e filmes. Basta assistir a alguns programas para perceber que a maioria dos atores são caucasianos.

De uma certa forma, me sinto um tanto intrusa para escrever sobre isso, já que sou branca branquela, descendente de alemães, e me criei em um meio familiar que várias vezes percebi racista. Porém, a consciência negra tem a contrapartida de que posso falar com alguma propriedade, que é a consciência de ser brancx. Calma, não precisa parar de ler, não vou escrever nenhuma bobagem sobre preconceito racial contra brancos. Estou falando de perceber-se branco, perceber que isso é uma diferença e não “o normal” e que sim, eu sou privilegiada por isso.

Se a pobreza no Brasil tem cor (e também gênero, idade e localização geográfica), a culpa é da cor? Há quem acredite que sim. É o mesmo tipo de pensamento que associa a falta de mulheres no campo científico não por motivos históricos e culturais que excluíam (e ainda excluem) o gênero feminino de uma área considerada masculina, mas pelo simples fato delas serem mulheres! O pensamento de que mulheres são intelectualmente inferiores aos homens. A mesma lógica infundada que rege o pensamento de que negros são naturalmente violentos e criminosos.

Lutamos por reconhecimento do nosso povo, ultrapassando as barreiras do preconceito e discriminação nas diferentes esferas das nossas vidas, seja social, profissional, acadêmica, nos grupos de convivência, seja nas nossas relações mais pessoais. Lutamos pelo reconhecimento da nossa historia, considerando o 20 de novembro como uma data chave, importantíssima à nossa militância, reconhecendo de fato a luta e o valor do povo negro.

Sou descendente de africano, especificamente, de marroquino. Tenho muito orgulho só de imaginar que parte da minha história começou lá! 😉

Preconceito ainda existe? Existe minha gente! É o preconceito velado, mas forte. Hipocrisia seria dizer que isso não existe mais.

O racismo, na maior parte das situações hoje, é sutil. Pouca gente tem coragem de destratar ou injustiçar, aberta e publicamente, alguém por ser preto.Talvez a polícia. Mas a maioria das pessoas faz “sem querer”, faz e disfarça, ri escondido, conta piada de mau gosto, ignora. Atitudes por vezes imperceptíveis, e supostamente inofensivas e justificáveis, do ponto de vista de quem comete e, algumas vezes, até de quem sofre. No entanto, a discriminação é clara e inassimilável do ponto de vista das crianças que a presenciam, pelo menos até que elas comecem a internalizar o preconceito. Criança vê. Vê e se pergunta.

O Dia da Consciência Negra é uma data pertinente pra nos lembrarmos daquele slogan dos anos 60 que, a meu ver, não deveria ter saído de moda: black is beautiful. E serve para pensar no Zumbi, um herói nacional que lutou pela liberdade. Já passou da hora da gente se livrar das nossas amarras. Ao adotarmos um padrão único de beleza, todos saímos perdendo.

Sem contar que estes mesmos seres invisíveis não são considerados belos. O seu cabelo não é liso, os seus olhos não são verdes, o seu nariz não é fino. Fico imaginando com é viver numa sociedade que, além de te tratar como um ser invisível ,ainda te chama de feio a todo instante mostrando a beleza dos brasileiros brancos, loiros e de olhos claros. Fico imaginando quantos negros amaldiçoam a si mesmos por não terem nascido brancos.

Quem no Brasil não é negro?

Quem aqui não é preto?

Quem aqui

Em sua alvura não tem

Sangue de escravo?

A mulher negra, particularmente, no período colonial tinha a função de servir a seus “donos”, em todos os aspectos, seja com trabalhos domésticos ou como objeto sexual. Assim, a construção histórica da identidade da mulher negra e a violência sexual perpetrada no período colonial refletem o modo como as relações de gênero e raça configuram-se atualmente. As relações sociais em nossa sociedade, ainda retratam o período escravista.

Ok, se eu disser: “se eu tivesse um cabelo assim, usaria black power”, vou ouvir: “você só fala isso porque tem esse cabelo”; então sem entrar no óbvio, o objetivo é discutir por que as negras famosas usam o cabelo liso.

Daí que eu comecei a reparar, aqui na cidade de São Paulo, em que ambientes costumava ver pessoas negras com mais frequência e em quais outros sua presença era rara ou inexistente. Andando pelos corredores e calçadas da FGV ou da FAAP, duas das principais universidades particulares da cidade, é incômoda a homogeneidade da aparência das pessoas.

Quando tivemos a ideia de escrever juntos nessa blogagem coletiva, proposta pelo Blogueiras Feministas, decidimos fazer um bate papo sobre nossa luta contra o racismo e como mostramos o negro em nossas histórias em quadrinho. Pautamos a conversa em noss@s protagonistas negr@s: Diana, profiler policial da graphic novel Valhalla (roteiro Sara Siqueira e desenho João Miranda); e os personagens da webcomic Sharpeville (criadas por João Miranda, como projeto de final do curso superior de Artes Visuais na UFJF).

Crianças e adolescentes sofrem diariamente o preconceito e a repressão por serem pobres e morarem em comunidades carentes, possuírem pouca escolaridade, e nenhuma perspectiva de mudança. Muitos são negros e feios, segundo a descriçao feita por eles mesmos, que sentem na pele a discriminação na hora de procurar uma vaga de emprego ou de transitar por determinados ambientes. “As pessoas têm medo da gente, e a polícia dá na nossa cara”, alguns me dizem.

Nos últimos anos, o movimento negro vem lutando pela valorização da beleza negra, lidando com a questão do cabelo como um elemento importante de identidade e de enfrentamento do preconceito. O mais legal é que assim as pessoas começam a lidar com a própria imagem como uma proposta política. Ter o cabelo crespo, sem alisar, nesse caso, é uma forma de resistência a um padrão de beleza imposto que diz que o cabelo liso é que é bonito e bom. Além disso, é uma forma de valorizar a própria beleza, a beleza “natural”, mais livre de tratamentos químicos agressivos como o alisamento.

Escolhi falar de mulheres negras. E de música. E de música feita por mulheres negras. Mas não vou me aprofundar, quero apenas contar sobre minha noite de ontem e compartilhar aqui, fazendo uma singela homenagem a todas as mulheres negras, as maiores vítimas do racismo e do machismo.

Neste ano, o portal UOL colocou na sua home page a foto da atleta negra Rosângela Santos que conquistou medalha de ouro nos Jogos Panamericanos de Guadalajara com o texto legenda “Pan: patinhos feios salvam Brasil com ouros inesperados”, e um link para a reportagem: Patinhos feios salvam o dia do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. A legenda da foto causou indignação entre os internautas – até hoje os comentários estão disponíveis, questionando inclusive o motivo do portal ter mudado a chamada da matéria repentinamente, sem dar explicações aos leitores.

Dia 20 de novembro é a consciência presente e teimosa daquilo que de fato constrói a negritude. Recriação de olhar, é perceber-se valente, é inspirar-se no rompimento de algemas (timidez e pré-julgamentos), e auto-tingimento consciente, agora de dignidade.

Então as descobertas que vieram com muito debate (leiam aqui) me ajudaram a entender bem essa posição em que estou simplesmente por ser branca – e, claro, entender melhor a posição em que negras estão por serem negras. Isso simplesmente não pode ser ignorado em se falando da sociedade brasileira, ex-escravocrata, onde a escravidão africana foi o principal comércio por séculos.

Blogueiras Feministas

Somos várias, com diferentes experiências de vida. Somos feministas. A gente continua essa história do feminismo, nas ruas e na rede.

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